Amor, Trabalho e Psicanálise
- carolteixeirasil
- 20 de mar.
- 3 min de leitura

Como já dito em outro texto daqui do blog [Saúde Mental e Hipermedicamentalização], para a psicanálise uma pessoa mentalmente saudável é aquela capaz de trabalhar e amar. Freud, em uma carta escrita para Bingham Dunn em 1927, diz:
"O objetivo da análise é capacitar o paciente a amar e a trabalhar."
Pois bem, não é que tenhamos que estar o tempo todo amando e sendo produtivos para sermos saudáveis. Trata-se apenas de sermos capazes de fazer estas duas coisas, aparentemente simples, mas que no fim das contas são determinantes e predominantes em nossas vidas.
O trabalho, na nossa atualidade muito mais do que nos tempos de Freud, é determinante em todas as esferas da nossa vida, não só por ser o objeto de maior investimento libidinal e de tempo de vida, (com exceção de pessoas herdeiras) mas também porque será determinante nos acessos e oportunidades que temos a partir da remuneração que recebemos pelo trabalho exercido, como por exemplo, acesso à saúde, lazer, educação, moradia, direito de ir e vir, dentre outros.
Para além disso, uma pessoa que exerce uma função que a satisfaz, que trabalha com o que quer e se sente realizada com seu trabalho, será uma pessoa mais satisfeita consigo mesmo, o trabalho pode dar ou não sentido à existência dessa pessoa. O trabalho também pode ser algo que a pessoa só faz para pagar as contas, mas nesse contexto será mais difícil encontrar sentido e satisfação no trabalho; mais difícil, não impossível, afinal, as coisas têm o sentido que damos a ela. E pode haver uma grande satisfação pessoal em se bancar e pagar as próprias contas ou como diria Zeca Pagodinho:
Se eu quiser fumar eu fumo/ Se eu quiser beber eu bebo/ Pago tudo que consumo/ Com o suor do meu emprego.
Essa autonomia diante das próprias escolhas é fundamental para a saúde mental e infelizmente esta autonomia está completamente relacionada ao dinheiro. Então mesmo que a função exercida no trabalho não seja satisfatória, o dinheiro recebido por este trabalho pode ser satisfatório e dar sentido ao indivíduo, se lhe der autonomia para fazer escolhas, podendo inclusive escolher fazer uma nova formação e encontrar uma nova função para trabalhar que o satisfaça no próprio exercício da função, sendo a remuneração uma satisfação secundária.
E o amor?
O amor talvez seja um dos maiores, senão o maior, agente de mudança individual. Aqui não me refiro somente ao amor romântico em relação a um companheire de vida, trata-se desse amor também que, certamente exige um grande esforço, mudança e maturidade das partes envolvidas. Mas o amor se faz presente nas relações de amizade, familiares, pode estar nas relações de trabalho e muitas outras. O amor fala da relação com o Outro, por isso ele exige tanto esforço, lidar com um indivíduo que não seja nós mesmos sempre exigirá esforço, mudança e maturidade, pelo menos se tratando de uma pessoa saudável que, vai se importar com o impacto do seu comportamento e escolhas nos outros ao seu redor e sobretudo nos outros que ama.
Então, voltando ao começo do texto, não é que tenhamos que estar sempre amando o outro e sendo produtivos para sermos saudáveis, é que possuir essa capacidade e exercê-la, exige de nós muitos movimentos, muita análise, muita reflexão e muita mudança e isso nos leva ao famoso amadurecimento e a uma relação saudável com nós mesmos e com o Outro. Realmente não é algo fácil, mas vale o esforço.
Se está difícil manter saúde mental para amar e trabalhar, entre em contato e agende uma sessão, pois sem análise pode ser bem mais difícil.